Não existe “amor da vida”

Mas pode existir um amor para uma vida toda.

Bom, pra começar quero explicar que, de cara, acho que essa afirmação é muito reconfortante, ao contrário do que a maioria das pessoas pensa assim que lê… é claro que é reconfortante, se não existe amor da vida, jamais vamos correr o risco de perdê-lo! rsrsrs

Mas sem brincadeiras, resolvi escrever sobre o assunto porque já falei dele milhões de vezes – já defendi a ideia várias vezes e nos mais variados contextos, já falei no consultório com pacientes, no trabalho na Secretaria de Saúde, em palestras sobre afetividade, em festas, reuniões íntimas de amigas, ufa… mas é porque acredito mesmo! Na verdade, a teoria do “amor da vida” é péssima, por vários ângulos, e o primeiro deles é que é o primeiro passo para a destruição, pois se é o amor da sua vida, não precisamos cativar, cuidar e muito menos conquistar… É o amor da sua vida mesmo!

Mas vamos lá, não existe amor da vida por um simples motivo: ninguém nunca é perfeito para ninguém! Podem desistir! A gente realmente só troca de defeitos, qualidades e características físicas.

Mas vou explicar melhor, gostar das qualidades das pessoas é muito fácil, o porteiro do meu prédio me adora pelas minhas qualidades, minha vizinha e minha tia também. Qualquer um vai gostar das minhas qualidades, já gostar dos meus defeitos e das minhas singularidades, não… certamente não será tão fácil. Defendo que esse é o segredo, pessoas compatíveis são mais fáceis de conviver e de se entenderem… afinal, as qualidades de todo mundo nós adoramos, certo?

Mas e os defeitos? O segredo está neles. Conseguimos nos relacionar bem com pessoas cujos defeitos e singularidades nós conseguimos conviver, aceitar, contornar. Numa boa, sem nos irritar ou incomodar.

Nessa linha de raciocínio, quando encontramos alguém compatível, alguém que suporta bem nossos defeitos e cujos defeitos nós também suportamos, quando isso acontece nós temos a possibilidade de construir um relacionamento. Por que possibilidade? E por que nós temos que suportar e conviver com os defeitos? Quanto aos defeitos, que fique claro que quando não aceitamos e convivemos bem com o ou os defeitos de alguém, acabamos por nos irritar e querer que a pessoa mude (o que nunca acontece) ou pior, podemos acabar agredindo verbalmente a outra pessoa, o que só detona uma relação… e por que falei de possibilidade? Porque qdo temos duas pessoas compatíveis, que suportam e aceitam bem os defeitos e peculiaridades da outra, ainda assim, só isso não adianta, as duas pessoas precisam de querer construir!

E o que significa construir? Acho que as pessoas se esqueceram disso tudo. Construir é não viver na era do descartável, do fútil, do vazio. Construir é se importar, é viver junto, dividir as alegrias e os problemas, amar, dar espaço para o outro, saber se retirar de vez em quando, fingir que não ouviu, ou viu, é manter a sua vida e seus próprios interesses, assim como amigos seus, individuais e claro, deixar o outro ter isso tudo também.

É se apaixonar todo dia, é conquistar, regar o jardim, é escutar, é conversar por horas sem ver o tempo passar, é ser amigo de verdade, é ficar calado, é abrir mão de vez em quando, é querer ser feliz e ver o outro feliz, é segurar na mão, poder ser você mesmo, respeitar, entender, brigar de vez em quando, quando não concordar para depois fazer as pazes e ceder.

É se importar com os problemas que não são seus, com a família que não é sua, é ter projetos juntos, entregar a alma junto com o corpo, se divertir junto, é imaginar vc velhinho ao lado da outra pessoa, é cobrar lealdade e não fidelidade (ahh, se as pessoas se tocassem o quanto a lealdade é mais importante…)

É se jogar, confiar cegamente, e fazer isso tudo achando lindo e nunca por obrigação, é acreditar de olhos fechados no pra sempre – eu sei que nunca existem garantias de ser pra sempre, mas só vale a pena investir e estar junto com alguém se a gente acreditar num futuro no presente, se não, é perda de tempo e a vida não tem ensaio não…

Bom, porque falei isso tudo? Porque para dar certo precisamos de duas pessoas querendo construir. Uma só não vai adiantar nunca.

Precisamos achar pessoas compatíveis que queiram construir!

Aliás, acho que vou mudar agora esse termo “construir” para plantar, porque no caso propriamente dito é jardim. Prédio um dia acaba e perde totalmente a graça e seu tesão, mas um jardim não. Ele as vezes sofre com as secas e até certo abandono mas, ao contrário de um prédio, ele jamais pára de crescer, enquanto houver amor.

Desejei há pouco tempo, num discurso de casamento, que eles (os noivos) pudessem sempre se lembrar do quanto o jardim deles era lindo e tivessem sempre amor, sonho, fé e fantasia pra recomeçar, todo dia, arregaçando as mangas e trabalhando um pelo outro.

Nossa tendência não é a evolução?

Não estamos sempre procurando melhorar? Terminamos uma relação porque não está bom e aí vamos em busca de algo melhor…

Se a outra pessoa não te quer mais, tudo perde o sentido, inclusive a sensação de era a pessoa certa pra vc, e se nesse momento, vc sabe que não existe amor da vida, vc é livre, e de quebra, nao perdeu nada. Só ganhou. Viveu. Foi feliz enquanto aconteceu. Acreditou. Arriscou.

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